sexta-feira, 9 de junho de 2017

O que é um bom pesquisador


Entender o que é um bom pesquisador em direito é importante quando você procura um orientador, busca se aproximar de acadêmicos mais experientes e realmente deseja seguir os passos da pesquisa (tem certeza?). Cada área tem suas particularidades, mas em geral o que é ser um bom pesquisador se aplica a todos os campos de estudo.

Nesta postagem, vou explicar o que significa ser um bom pesquisador ou um pesquisador de alto nível ou um pesquisador importante ou qualquer coisa do gênero.

A ideia geral se traduz em resultados da pesquisa e seus impactos na área e na sociedade. Qualidades individuais não necessariamente fazem um bom pesquisador, como, por exemplo, dar boas aulas, falar alemão e ser conhecedor de música erudita.

1. O bom pesquisador possui artigos publicados em inglês em periódicos internacionais respeitados. Uma classificação internacional desses periódicos na área de direito pode ser encontrada no site da SJR. Como a avaliação das pós-graduações no Brasil e dos próprios pesquisadores é feita através do sistema Qualis de classificação, ter artigos publicados em periódicos classificados como A1 (o estrato mais alto) é indício da qualidade do pesquisador. Um bom pesquisador de ciências sociais, incluindo de direito, pode ter um perfil na SSRN, que facilita e agiliza o acesso aos seus trabalhos.

2. Entretanto, não basta ter artigos publicados nos melhores periódicos. Essa é a triagem inicial. A segunda triagem diz respeito à repercussão dos artigos: o bom pesquisador possui artigos que são altamente citados por especialistas do seu campo (e, em alguns casos, até mesmo de outras áreas), o que reflete a relevância e impacto dos seus trabalhos. Se, por acaso, o trabalho do pesquisador gerar repercussões sócias (uma nova tecnologia, uma nova legislação, políticas públicas etc.), então provavelmente esse trabalho também terá repercussão acadêmica traduzida em citações. No Currículo Lattes do pesquisador, é possível verificar essas informações (se houver).

3. O bom pesquisador sabe que, além da pesquisa em si e da incessante busca por respostas e resultados, deve apresentar seus trabalhos aos seus pares, e não só em periódicos: apresentações em conferências e eventos acadêmicos, que permitam a discussão crítica, também fazem parte da vida de um bom pesquisador.

4. Hoje a estrutura institucional da academia, cheia de pressão por produtividade, pode levar o pesquisador a se preocupar mais em publicar papers do que com a relevância da sua pesquisa. Entretanto, o bom pesquisador deve estar muito mais obcecado com problemas científicos, tecnológicos e sociais, e não com a publicação em si. A obsessão com problemas relevantes permite a criação de soluções relevantes, e isso separa as pesquisas realmente importantes daquelas que apenas preenchem periódicos e currículos.

O maior reconhecimento que um pesquisador pode ter é ver seu trabalho ter repercussão, acadêmica ou social – e essa repercussão pode atrair prêmios. Mas na área de direito existe uma prática comum que distorce o reconhecimento acadêmico e pode induzir novatos a erros na avaliação de um pesquisador: as homenagens. Não é raro ver congressos e eventos em homenagens a determinado professor, pesquisador, advogado e outras personalidades do mundo jurídico, que pouco ou nada acrescentaram à solução de problemas científicos ou sociais. O porquê disso é uma questão em aberto para uma pesquisa empírica sobre o assunto, mas provavelmente tem a ver com uma cultura jurídica que preza pelo fortalecimento de laços sociais como principal forma de ascensão profissional. Em outras áreas, grandes homenagens são raríssimas, e destinadas somente àquelas figuras cujos trabalhos geraram sério impacto – e às vezes mudaram o mundo para sempre.

Para exemplos de boas pesquisas e bons pesquisadores, ver as postagens:



Para evitar alguns erros amadores como pesquisador, ver aqui.

Se você é uma criatura persistente que, apesar de tudo, deseja seguir uma carreira séria da pesquisa em direito, as duas postagens abaixo lhe serão de ajuda:


sábado, 11 de fevereiro de 2017

Dicas para entrar numa pós-graduação em direito

O termo “pós-graduação”, em sentido amplo (lato sensu), se refere a tudo o que faz parte da sua formação educacional após a graduação e, de modo um pouco mais específico, à especialização, ao mestrado e ao doutorado. Em sentido mais estrito (stricto sensu), pós-graduação se refere ao mestrado e doutorado, ambos com o propósito acadêmico, isto é, de formar possíveis professores e pesquisadores, além de produzir conhecimento – diferente da especialização e do mestrado profissional, voltados para um aprimoramento do profissional na sua área de trabalho.

Aqui, trago algumas dicas para entrar num programa de mestrado ou doutorado em direito. Mas imagino que as dicas tenham validade geral para outras áreas.

1. Escolha por afinidade: Idealmente, escolha um programa com o qual você tem afinidade, isto é, tem interesse nas linhas de pesquisa ou onde possa desenvolver suas pesquisas de maior interesse. Isso porque pesquisar exige motivação e curiosidade, tesão pelo que se está fazendo. Caso contrário, a experiência pode ser bastante frustrante e as dificuldades terão um peso muito maior.

2. Atenção para o edital: Uma vez escolhido o programa (ou mais de um), o primeiro obstáculo que você precisa superar é o entendimento dos detalhes do edital. Isso vale para qualquer concurso. Por pequenos detalhes, como uma data, um documento ou uma exigência adicional, você pode ser sumariamente eliminado.

3. Tenha familiaridade com o programa: Você tentará ingressar numa das linhas de pesquisa do programa e conhecer os trabalhos feitos sob aquela linha é essencial para saber se tem afinidade com ela e para construir um projeto de pesquisa adequado. Você deve conhecer não só a produção acadêmica dos professores da linha, mas também as dissertações e teses defendidas ali. Tente entrar em contato, mesmo que por e-mail, com os professores, alunos e ex-alunos do programa, falando dos seus interesses e mostrando que conhece o assunto e os trabalhos deles: isso mostra iniciativa, vai lhe dar mais notoriedade na seleção (em vez de entrar como mais um desconhecido) e você pode receber dicas úteis – como saber que seus interesses estão ou não em sintonia com o dos professores do programa. Conheça o currículo de cada um deles e pense em possíveis orientadores.

4. Assista às aulas: Se puder, tente assistir às aulas (ou algumas delas) da graduação ou da pós-graduação lecionadas pelos professores da sua linha. Para isso, peça humildemente ao respectivo professor e deixe claro seu interesse e motivação. Assistir às aulas têm várias vantagens: vai lhe preparar melhor para a prova escrita (se houver) e vai lhe pôr em contato com o professor.

5. Faça um projeto consistente, mas considere a possibilidade de mudança: Seu projeto de dissertação ou tese provavelmente fará parte da avaliação na seleção e, por isso, precisa ser atraente, do ponto de vista dos professores do programa: mostrar-se viável naquele contexto (prazo, recursos e programa), estar minimamente dentro dos atuais interesses dos professores da linha, parecer estar em continuidade com outros trabalhos ali desenvolvidos, ser claro, curto e direto, e demonstrar por citações consistentes conhecimento dos trabalhos na área e dos feitos no programa. Todavia, tenha ciência de que às vezes é possível (ou até necessário) que você reformule totalmente seu projeto, com o apoio do seu orientador.

Se vai fazer a seleção da pós-graduação na universidade em que se formou, tudo ficará mais fácil – a menos que por acaso você tenha se tornado inimigo dos professores do programa ao longo da graduação. Considere se preparar ao longo do ano – as seleções geralmente são no segundo semestre. Se vai tentar em outra universidade, tente se planejar melhor e mais antecipadamente, pois não só você não foi educado naquele ambiente, mas também terá de lidar com problemas logísticos.

A seguir dois textos na mesma linha: