O que deve fazer um orientador,
na graduação e na pós-graduação? O que é um mau orientador? O que não deve
fazer um orientador? Qual o papel e a importância do orientador na vida
acadêmica e profissional do estudante? Nesta postagem tratarei dessas questões,
considerando minha própria experiência na área de direito e relatos de colegas
de áreas como ciência da computação, ciência política e outras. Agradecimentos
especiais a Cleyton Rodrigues e a Jocsã Carlos.
Para simplificar a
exposição e torna-la mais sistemática, falarei sobre boas e más práticas de
orientação, separando o bom do mau orientador.
O
Bom Orientador – ou boas práticas de orientação
1. Em particular na
graduação, mas também na pós-graduação, o bom orientador ajuda a definir e
moldar apropriadamente o tema no qual a estudante está interessada, pois ele tem
a experiência e o conhecimento para indicar os caminhos promissores e os meios
de tornar a pesquisa viável, se for – se não for viável, isso também deve ser
alertado por ele. Dada a grande quantidade de informação, ter um mentor no meio
de tantos artigos, livros e novas descobertas é uma necessidade para conseguir
se encontrar.
2. É importante que a
estudante tenha uma ideia clara do objetivo geral de sua pesquisa e o
orientador tem muito a contribuir nesse sentido. O bom orientador não faz o
trabalho pelo aluno, mas age como uma espécie de guia ou facilitador, ajudando
a estudante a desenvolver sua própria autonomia intelectual.
3. O bom orientador é
acessível e aberto ao diálogo com o orientando, realizando, ao menos
eventualmente, reuniões e conversas para tratar do tema da pesquisa. Orientador
não é professor particular, mas seu trabalho envolve também dar atenção ao
orientando e leva-lo a sério – esse trabalho sério em conjunto às vezes leva a
grandes realizações científicas. Por isso, aliás, não só o bom orientador, mas
também o bom orientando aceitam críticas e diálogo acadêmico, com a humildade
de quem busca por respostas e resultados científicos em parceria.
4. Compreender a
humanidade do orientando, que, por sua vez, também deve compreender a
humanidade do orientador: entender que cada um é uma pessoa cuja vida vai além
da esfera acadêmica e profissional. Às vezes o orientando ou o orientador pode
estar passando por algum momento pessoalmente difícil, como problemas emocionais,
familiares ou financeiros, e sem uma compreensão mútua dessas questões, a
parceria entre os dois estará fadada a ser repleta de tensões e fracassos. Ocorre
às vezes de o orientando e o orientador criarem verdadeiros laços de amizade.
5. O bom orientador
conhece seu campo de pesquisa, com o qual (preferencialmente) o orientando
também tem afinidade, e possui contatos na área. Dessa forma, o bom orientador
também ajuda a orientando na criação e no aumento de sua rede de contatos
profissionais, colocando-o em interação com outros pesquisadores do Brasil e do
mundo.
O
Mau Orientador – ou más práticas de orientação
1. O mau orientador escolhe
o tema e define os passos da pesquisa do orientando, o que acaba prejudicando na
motivação do estudante para com a pesquisa, já que agora ele está fazendo algo que
se assemelha a suas obrigações escolares, não mais algo que escolheu por
interesse próprio.
2. O mau orientador é esquivo,
raramente disponível para dar atenção ao orientando, sempre ocupado com toda a
sorte de atividades que não seja a orientação: não responde e-mails, não atende
telefonemas, nem faz reuniões, muito menos se dar ao trabalho de ler o
andamento da pesquisa do orientando. Tive conhecimento de um caso em que a
pessoa só falou duas vezes com o orientador ao longo de dois anos de mestrado,
sendo que uma dessas vezes deve ter sido na defesa.
3. Trata o orientando
como máquina: exige trabalhos e mais trabalhos em prazos extenuantes, e não
aceita falhas. Descontente, briga e reclama com o orientando.
4. O mau orientador explora
o orientando, de modo a fazê-lo realizar trabalho que deveria ser do orientador
como professor e pesquisador, fazendo-o dar aulas e mais aulas, e assinando como
coautor em artigos nos quais não participou.
5. Arrogante e de ego
inflado, o mau orientador não aceita ser criticado por um “mero” estudante de
graduação ou pós-graduação. Dono de um Ph.D. e pós-doutorados, ele se sente
acima dos seus orientandos, em competência acadêmica.
Recomendo a leitura:
* O que esperar e o que não esperar de um orientador
* Quando a relação professor/estudante se torna abusiva na pós-graduação?
Agradecimento
pessoal
Por fim, quero fazer um
agradecimento pessoal a todos os meus orientadores: os professores Torquato
Castro Júnior, Gustavo Just e Fred Freitas. Eles foram e são fundamentais em
meu desenvolvimento acadêmico e profissional, e muitas vezes me motivaram a
persistir, quando eu queria desistir. Muito obrigado.