domingo, 11 de dezembro de 2016

O papel do orientador na vida acadêmica

O que deve fazer um orientador, na graduação e na pós-graduação? O que é um mau orientador? O que não deve fazer um orientador? Qual o papel e a importância do orientador na vida acadêmica e profissional do estudante? Nesta postagem tratarei dessas questões, considerando minha própria experiência na área de direito e relatos de colegas de áreas como ciência da computação, ciência política e outras. Agradecimentos especiais a Cleyton Rodrigues e a Jocsã Carlos.

Para simplificar a exposição e torna-la mais sistemática, falarei sobre boas e más práticas de orientação, separando o bom do mau orientador.

O Bom Orientador – ou boas práticas de orientação

1. Em particular na graduação, mas também na pós-graduação, o bom orientador ajuda a definir e moldar apropriadamente o tema no qual a estudante está interessada, pois ele tem a experiência e o conhecimento para indicar os caminhos promissores e os meios de tornar a pesquisa viável, se for – se não for viável, isso também deve ser alertado por ele. Dada a grande quantidade de informação, ter um mentor no meio de tantos artigos, livros e novas descobertas é uma necessidade para conseguir se encontrar.

2. É importante que a estudante tenha uma ideia clara do objetivo geral de sua pesquisa e o orientador tem muito a contribuir nesse sentido. O bom orientador não faz o trabalho pelo aluno, mas age como uma espécie de guia ou facilitador, ajudando a estudante a desenvolver sua própria autonomia intelectual.

3. O bom orientador é acessível e aberto ao diálogo com o orientando, realizando, ao menos eventualmente, reuniões e conversas para tratar do tema da pesquisa. Orientador não é professor particular, mas seu trabalho envolve também dar atenção ao orientando e leva-lo a sério – esse trabalho sério em conjunto às vezes leva a grandes realizações científicas. Por isso, aliás, não só o bom orientador, mas também o bom orientando aceitam críticas e diálogo acadêmico, com a humildade de quem busca por respostas e resultados científicos em parceria.

4. Compreender a humanidade do orientando, que, por sua vez, também deve compreender a humanidade do orientador: entender que cada um é uma pessoa cuja vida vai além da esfera acadêmica e profissional. Às vezes o orientando ou o orientador pode estar passando por algum momento pessoalmente difícil, como problemas emocionais, familiares ou financeiros, e sem uma compreensão mútua dessas questões, a parceria entre os dois estará fadada a ser repleta de tensões e fracassos. Ocorre às vezes de o orientando e o orientador criarem verdadeiros laços de amizade.

5. O bom orientador conhece seu campo de pesquisa, com o qual (preferencialmente) o orientando também tem afinidade, e possui contatos na área. Dessa forma, o bom orientador também ajuda a orientando na criação e no aumento de sua rede de contatos profissionais, colocando-o em interação com outros pesquisadores do Brasil e do mundo.

O Mau Orientador – ou más práticas de orientação

1. O mau orientador escolhe o tema e define os passos da pesquisa do orientando, o que acaba prejudicando na motivação do estudante para com a pesquisa, já que agora ele está fazendo algo que se assemelha a suas obrigações escolares, não mais algo que escolheu por interesse próprio.

2. O mau orientador é esquivo, raramente disponível para dar atenção ao orientando, sempre ocupado com toda a sorte de atividades que não seja a orientação: não responde e-mails, não atende telefonemas, nem faz reuniões, muito menos se dar ao trabalho de ler o andamento da pesquisa do orientando. Tive conhecimento de um caso em que a pessoa só falou duas vezes com o orientador ao longo de dois anos de mestrado, sendo que uma dessas vezes deve ter sido na defesa.

3. Trata o orientando como máquina: exige trabalhos e mais trabalhos em prazos extenuantes, e não aceita falhas. Descontente, briga e reclama com o orientando.

4. O mau orientador explora o orientando, de modo a fazê-lo realizar trabalho que deveria ser do orientador como professor e pesquisador, fazendo-o dar aulas e mais aulas, e assinando como coautor em artigos nos quais não participou.

5. Arrogante e de ego inflado, o mau orientador não aceita ser criticado por um “mero” estudante de graduação ou pós-graduação. Dono de um Ph.D. e pós-doutorados, ele se sente acima dos seus orientandos, em competência acadêmica.
Agradecimento pessoal

Por fim, quero fazer um agradecimento pessoal a todos os meus orientadores: os professores Torquato Castro Júnior, Gustavo Just e Fred Freitas. Eles foram e são fundamentais em meu desenvolvimento acadêmico e profissional, e muitas vezes me motivaram a persistir, quando eu queria desistir. Muito obrigado.

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